mar doce

mar e doce é o amor...

2008/06/15

Papoilas



Inevitável, tal como a canção lógica da banda mais autocritica da história da musica, que fechava a década.
Ia para a rua com os meus amigos imitar os meus idolos que via na televisão e guardava nos cromos que o meu pai me comprava. Todos os miudos querem ser futebolistas mas nesta altura eram tempos dificeis e nada disso, doutor ou engenheiro, escolhe... O futebol não dá futuro a ninguém, como os tempos mudam, agora é claramente o oposto.
O fascinio daquela equipa garrida sangue, era mistico e grandioso, ria e chorava dependendo do resultado do totobola, felizmente nesta altura chorava muito pouco, o que inevitavelmente consolidava a alma para o futuro menos feliz que chegaria mas que não beliscaria jamais a opção tomada.

Sonhos

Aos primeiros acordes de "Hotel California", sonho com o que vou ser...
Pilotar um formula 1, ir à lua como via na televisão a preto e branco, ou melhor a azul e verde através de um filtro engenhoso mas enganador que antecipava o que iria chegar dois anos depois, num homem vestido como um astronauta brilhante e ao piano, que finalmente revelaria que as pessoas que saiem da televisão são da nossa côr, e não cinzentos como sempre pensei que fossem, abriam-se assim outras possibilidades para aquilo que eu poderia vir a ser.
Pedi ao meu pai um carro de corrida como os que via na televisão, desiluzão a minha quando chegou com um carro azul, que não se parecia nada com os carros de corrida mas que tinha a vantagem de nos poder levar a todos e não necessitar de capacete para se conduzir, gostei, permitiu-nos ir mais longe, muito mais longe, às origens...
Os sonhos são isso mesmo sonhos, é complicado dizer quando deixamos de sonhar, provavelmente é a unica coisa que nunca deixamos de fazer e sempre com a mesma expectativa de realização, sejamos nós crianças ou adultos. Com o tempo deixamos de sonhar alto ou de sonhar com impossiveis, racionalizando os sonhos ao concreto e palpável, mas porquê se os sonhos são isso mesmo, olhar para o inatingivel desejando que se realizem. O mundo seria bem melhor se todos os adultos sonhassem como as crianças, como elas próprias, simples e em tons claros.
imaginem...

7

Num excesso libertador, ecoam no ar os sons do punk revolucionário e provocatório dos "filhos" da monarquia europeia, que aqui chegam como uivos ferozes e aterradores, demasiado tempranos para a acalmia desejada pelo povo da jangada de pedra.
Ano de 7 e 7, que bem poderiam ser 14 no meu caderno dos deveres, mas que só por sí desencadeiam a sua influência mistica a compensar os devaneios de uma geração amordaçada e que agora solta os primeiros sons do que viria a ser a década de perfeição depois dos esperimentalismos, preparam-se as musicas que iriam marcar definitivamente a minha vida, presente e futura.
A 33 e a 45 rpm, 10 a 12 faixas de 3 a 6m, saiam de uma agulha e transformavam-se em magia, ou propagadas através do ar para dentro de uma caixa, ouvia-se a rádio que me ensinaria mais tarde a fabricar ilusões para milhares (como gosto de pensar...), ou talvez intimamente, só para mim.

Vida Real

"This is the real live..." começa assim a rainha das musicas, a canção mais inpiradora de sempre e que contém tudo o que uma musica deve ter, saida do coração de um homem com um amor sem preconceitos e que por ser tão grande, o levou daqui, para que fosse a cabeça de cartaz do maior concerto do mundo, e a que todos vamos assistir um destes dias...
Flutuo em águas cristalinas à espera que me resgatem, perdido no meio de um oceano maior que o pensamento que me afasta de terra firme e me obriga a gritar aos pássaros que na sua vida simples nem se apercebem do pequeno ponto a flutuar no azul profundo do olhar.

Mudança(s)

"Still crazy after all this years" soa por um homonimo trovador de melodias que iria descobrir muito mais tarde. Verão quente, indica o termometro da nova casa, longe q.b. da realidade então vivida, casa de liberdade para os meus país, finalmente... Novas oportunidades para todos e para mim o principio da vida que agora me parece distante mas que testemunhou e testemunha muita da minha vivência, paredes que me viram crescer e sair, para voltar esporadicamente, demasiado...
Foi o ano em que aprendi a ler, a escrever e a somar futuro, obriguei a que isso acontecesse, e parti para a maior aventura da minha vida, aprender.
Primeiros amigos de infância numa terra que não era a minha mas que se tornou só minha, que agora não reconheço, mas a que volto, tal como a minha verdadeira terra, aquela onde não nasci mas onde tenho todas as raizes que me sustentam como vide que sou, o tronco é de pau, os ramos irão crescer e os frutos nasceram num futuro melhor que o meu presente.

2008/06/13

De Volta

Voltei à vida...?!
Porquê se não estive morto, apenas letárgico e à espera dum impulso para renascer...
Muita coisa mudou, ou talvez nada. Nada, creio que não mudou nada...
Estou diferente, ou talvez não. Não..., acho que estou na mesma...
Escrever é provavelmente o que falta, gostar do que faço, do que sou, de como estou, é o segredo que tive sempre à minha frente escondido por debaixo de mim.
A calma do mar, o tempero do sal e o murmurio das ondas é o que me falta para avançar.
Esta é a vida que eu escolhi, sem medo de confrontos ou desagrados, por isso vou em frente gostando de mim para que possa gostar dos outros.
Será isto simples? Sim!

2007/01/02

Liberdade

Os cravos sairam à rua num dia de Abril...
Aos 4 anos a sensação de liberdade é muito relativa, nunca me senti preso a nada, apenas aos pombos e pavões da mãe d'água que soltei um ano antes do meu pensamento.
Tenho a felicidade de nunca ter sentido a necessidade de pensar antes de falar, e tantos dissabores que isso me tem trazido... A liberdade de poder ler, escrever, falar é um dado adquirido desde sempre. Tenho "inveja" de não poder dar o valor correcto ao sentido da expressão... Só damos o real valor à liberdade quando em algum momento das nossas vidas ela nos foi retirada, é falso pensarmos que a liberdade que para nós foi conquistada nos pertence e que é assunto de outros mantê-la e preservá-la.
Todos os dias, quando o sol desponta no horizonte fazemos questão de reafirmar a nossa pequenez, ao desprezar o simples facto de acordarmos livres de espirito e pensamento...
Liberdade rima com felicidade, solidariedade, maternidade e essencia de recomeço... com mar salgado e libertador e com a docura das coisas simples da existência, como o toque singelo de alguém que nos diz amar e que nos liberta da nossa viagem de rumo incerto.

2006/06/23

A lua

"The dark side of the moon" dos Pink Floyd iluminava as minhas noites, mas sem eu saber.
Fascinava-me esse astro que move as marés e os ciclos da vida, altera humores, transforma homens em lobos...
Uivo de prazer em sua honra, o meu corpo transforma-se e pulo a janela em busca de uma presa...
Sonho em estar com os meus pares em alcateia, selvagem e livre.
Torno-me perigoso e corro sem destino, fugindo da minha sombra que me persegue e assusta.
Quero ser lobo mas não lhe visto a pele, tenho medo de gostar...
Sou um lobo à espera que a lua se recorte em quarto para regressar a casa, mas ao mesmo tempo um homem que anceia que a lua se encha para uivar em sua honra.
Encontrei o equilibrio, os pelos no corpo são a minha única lembrança dessa existencia passada.
Em noites de lua cheia uivo à lua, e sinto-me livre. É o meu segredo...

Espelho

"Me & Mrs Jones" de Billy Paul estava no top no dia em que me vi ao espelho.
Era um reflexo estranho, mas ao mesmo tempo familiar...
Tinha estado esse tempo todo no centro das atenções e acabava de entrar nas nossas vida uma menina baptizada com o nome das avós. Gostos discutiveis, mas neste caso sem possibilidade de discussão, adoptou um à sua escolha e cresceu a responder a um nome que não o seu.
Era um corpo estranho aos habitos adquiridos e entranhados na minha existência, passei a ser o mais velho e sábio, de repente no meio do descontrolo sentia que detinha o poder, essa bela sensação fugaz e perigosa. Na minha pequenez sentia-me responsável, tutor, dono,...
Como estava enganado...
O que eu queria era um cão, não um irmão ainda por cima do sexo oposto, nesta altura o sonho de todos os país era ter um casal.
Um casal de pássaros ou de peixes é compreensivel desejar, mas sem intuito de procriação já não faz qualquer sentido ter um casal!
Estava de novo enganado....
Todas as crianças deveriam ter pelo menos um irmão, seja ele mano ou mana, seja ele bonito ou feio, divertido ou enfadonho. É a maneira mais simples de educar e crescer, por comparação, por análise do outro, por pura competição pelo amor que não compreendemos dividido. É uma excelente maneira de no futuro compreender o nosso par, perceber os seus comportamentos e manias, receios e frustações.
Descobre-se o amor e o ódio através dos olhos de um irmão, é um tubo de ensaio, prepara-nos para o exame que tanto queremos que corra bem, o da vida.
Hoje sei que não aproveitei como devia este factor maravilhoso e caido em desgraça, porque não queremos ensinar aos nossos filhos a chave da vida que é o de saber partilhar, antes preparamos seres egoistas e individuais porque o mundo assim os deseja.
Conseguiremos mudar? Acho que não!
Que bom é ter um irmão para aprender a viver...

2006/06/21

Mariana

Flutuo...
Sinto que as forças se esgotam como um balão que se esvazia em busca do ar perdido.
Perco a esperança de chegar a terra firme e poder finalmente banhar o meu corpo nas águas reais de uma lagoa imaginária. O sol queima-me a pele e a boca seca é sinal da minha agonia, desespero...
Quando a esperança me abandona e vai longe, levada pelo vento forte que sopra do norte, vejo a mais linda figura imaginada e perseguida. Uma linda fada montada num golfinho como corcel prateado, e que se aproxima de mim trazendo de novo a esperança agarrada nas suas mãos firmes mas suaves.
É linda... muito linda, cabelos de ouro que ofuscam o sol, olhos verdes como o fundo do mar que me persegue, cara de miuda em corpo de mulher, um olhar triste e sonhador...
Aproxima-se de mim devolvendo-me toda a esperança perdida e com um gesto indica-me o caminho que está perto, tão perto...
Pergunto-lhe o seu nome. "Mariana", responde. Sorri e afasta-se a galope firme no seu golfinho cinzento, deixando para trás a sua silhueta inesquecivel.
O meu destino chama-se Mariana!

2006/06/18

Amizade

"You got a friend" de James Taylor passava às escondidas porque ainda não era tempo para cantar a solidariedade.
Tenho um amigo, não imaginário como as outras crianças, mas alto e forte que me segura a mão para dar os meus primeiros passos.
Figura austera mas doce, sorriso envergonhado porque estar sério é encarar a vida como ela deve ser encarada, com muita seriedade. Olho para cima e vejo o meu protector contra tudo e contra todos, aquela figura de pedra nunca deixaria que me fizessem mal. Asfixia mas ao mesmo tempo evita que caia nas pedras da calçada, não me larga a mão e discute com todos, quando me sente a balançar nas mãos de outros.
As palavras não são necessárias, os olhos comunicam por si só enviando cascatas de palavras com e sem sentido para alguém que só quer tropeçar para conhecer o alivio que é sarar uma dôr. Muito tarde as senti, demasiado tarde...
Com o passar do tempo os meus interesses divergem dos dele, não lhe dei tempo para me acompanhar de mão dada. Larguei-lhe a mão e corri desesperado à procura de nada.
Continuo a adiar o momento de lhe dizer nos olhos que o amo mais que a mim próprio, e os dias passam sem que o consiga fazer... Passou-me demasiadamente bem a seriedade hereditária nos genes comuns. Eu tenho tempo para mudar, só preciso da coragem ou da paz para lhe dizer o que sinto. Não vou esperar pelo momento em que ele já não me possa responder com um sorriso aberto que sempre me negou. Não vou...!

Verão

"In the summer time" de Ray Dorset era a musica do momento...
Estava quente e flutuava, sentia-me muito bem. Abri os olhos e estiquei as pernas de encontro à escuridão, estava na hora.
Fez-se luz, muita luz e de repente cheguei a um destino traçado por vontade de outros, ou não... Sempre estranhei o facto de ter nascido de 4 meses, e no entanto ter sido muito desejado. Sou lindo... Cabeludo, cabeçudo, olhudo, e com um peso igual ao meu aparente tempo de gestação, o menino perfeito desejado por todos e ávido de enfrentar o desconhecido conhecimento da vida oferecida e para sempre pendente de uma vontade divina, que dá com uma mão para poder esconder com a outra.
O arbitrio está ao meu alcance, mas não por agora.
Um sorriso guardado na memória distante, é a unica recordação que resta desse momento, um sorriso que me acompanha e que me aquece nos momentos mais frios e escuros da minha existência, e que como um farol, me indica um porto seguro quando navego em mar alto em busca das respostas às perguntas que nunca fiz.
Os sentidos despertam sem me pedir licença...
Sinto o odor da sobrevivência nos seios de uma mulher que não conheço, mas que sinto conhecer à muito tempo, que me cantava musicas de embalar quando deambulava naquele mar viscoso e quente, que me afagava nos meus medos sem sentido e que me passeva por sitios nunca antes descobertos.
o sabor é bom, muito bom, não do leite que me alimenta, mas do amor que o transporta. Vou ficar ligado para sempre a esta mulher.

A insustentável leveza do ser...

flutuo...
não me parece que consiga mergulhar neste mar tão salgado e frio!
Os pensamentos vagueiam ao lado das nuvens por cima de mim.
Vejo comboios, casas, animais que se apagam subtilmente ao sabor do vento, transformando-se de novo em simples nuvens.
Que missão ingrata têm as nuvens. Esconder o sol e enviar chuva... Mas um céu sem nuvens é o mesmo que um prado sem ovelhas a pastar, tanto azul sem imperfeição.
flutuo...
Maldito sal que não me deixa destemperar a minha alma, sou um tronco sem destino à espera que as ondas me levem para longe, para um sitio onde possa afundar os desgostos que me perseguem mas que me mantêm a flutuar.
Respiro fundo à espera que ar me engorde o espirito leve como uma folha de papel, sinto que não está a resultar...
Procuro uma ilha distante, uma lagoa de água doce onde possa aquecer de novo a vida.
Que raio de fio invisivel me prende a este destino, o de flutuar sem poder experimentar o mergulho nos braços doces do amor. Vagueio sem destino, mas sei que a ilha está próxima, está no meu destino que a encontre, para que finalmente possa começar a viver.
flutuo... por quanto tempo mais? Adormeço e ouço a minha vida passada...

Mar e Doce

Mar :
substantivo masculino
grande massa e extensão de água salgada que cobre a maior parte (73%) da superfície da terra.
grande quantidade, imensidade
abismo
(do latim: mare)

Doce:
adjectivo 2 géneros
que tem sabor agradável como o do mel e o do açúcar
meigo, suave, afectuoso
encantador
(do latim: dulce)

Mar e Doce é o amor.
À beira do abismo sentimos o encanto das palavras adoçicadas do ente amado ou odiado. Somos engolidos por uma maré que teima em não baixar, por um suave chamamento de uma voz meiga que nos diz para mergulhar nessa imensidade de sentimentos desconhecidos e inexplicados.
Perdemos o pé, mas avançamos na mesma. Saberemos nadar em águas tão profundas?