mar doce

mar e doce é o amor...

2006/06/23

A lua

"The dark side of the moon" dos Pink Floyd iluminava as minhas noites, mas sem eu saber.
Fascinava-me esse astro que move as marés e os ciclos da vida, altera humores, transforma homens em lobos...
Uivo de prazer em sua honra, o meu corpo transforma-se e pulo a janela em busca de uma presa...
Sonho em estar com os meus pares em alcateia, selvagem e livre.
Torno-me perigoso e corro sem destino, fugindo da minha sombra que me persegue e assusta.
Quero ser lobo mas não lhe visto a pele, tenho medo de gostar...
Sou um lobo à espera que a lua se recorte em quarto para regressar a casa, mas ao mesmo tempo um homem que anceia que a lua se encha para uivar em sua honra.
Encontrei o equilibrio, os pelos no corpo são a minha única lembrança dessa existencia passada.
Em noites de lua cheia uivo à lua, e sinto-me livre. É o meu segredo...

Espelho

"Me & Mrs Jones" de Billy Paul estava no top no dia em que me vi ao espelho.
Era um reflexo estranho, mas ao mesmo tempo familiar...
Tinha estado esse tempo todo no centro das atenções e acabava de entrar nas nossas vida uma menina baptizada com o nome das avós. Gostos discutiveis, mas neste caso sem possibilidade de discussão, adoptou um à sua escolha e cresceu a responder a um nome que não o seu.
Era um corpo estranho aos habitos adquiridos e entranhados na minha existência, passei a ser o mais velho e sábio, de repente no meio do descontrolo sentia que detinha o poder, essa bela sensação fugaz e perigosa. Na minha pequenez sentia-me responsável, tutor, dono,...
Como estava enganado...
O que eu queria era um cão, não um irmão ainda por cima do sexo oposto, nesta altura o sonho de todos os país era ter um casal.
Um casal de pássaros ou de peixes é compreensivel desejar, mas sem intuito de procriação já não faz qualquer sentido ter um casal!
Estava de novo enganado....
Todas as crianças deveriam ter pelo menos um irmão, seja ele mano ou mana, seja ele bonito ou feio, divertido ou enfadonho. É a maneira mais simples de educar e crescer, por comparação, por análise do outro, por pura competição pelo amor que não compreendemos dividido. É uma excelente maneira de no futuro compreender o nosso par, perceber os seus comportamentos e manias, receios e frustações.
Descobre-se o amor e o ódio através dos olhos de um irmão, é um tubo de ensaio, prepara-nos para o exame que tanto queremos que corra bem, o da vida.
Hoje sei que não aproveitei como devia este factor maravilhoso e caido em desgraça, porque não queremos ensinar aos nossos filhos a chave da vida que é o de saber partilhar, antes preparamos seres egoistas e individuais porque o mundo assim os deseja.
Conseguiremos mudar? Acho que não!
Que bom é ter um irmão para aprender a viver...

2006/06/21

Mariana

Flutuo...
Sinto que as forças se esgotam como um balão que se esvazia em busca do ar perdido.
Perco a esperança de chegar a terra firme e poder finalmente banhar o meu corpo nas águas reais de uma lagoa imaginária. O sol queima-me a pele e a boca seca é sinal da minha agonia, desespero...
Quando a esperança me abandona e vai longe, levada pelo vento forte que sopra do norte, vejo a mais linda figura imaginada e perseguida. Uma linda fada montada num golfinho como corcel prateado, e que se aproxima de mim trazendo de novo a esperança agarrada nas suas mãos firmes mas suaves.
É linda... muito linda, cabelos de ouro que ofuscam o sol, olhos verdes como o fundo do mar que me persegue, cara de miuda em corpo de mulher, um olhar triste e sonhador...
Aproxima-se de mim devolvendo-me toda a esperança perdida e com um gesto indica-me o caminho que está perto, tão perto...
Pergunto-lhe o seu nome. "Mariana", responde. Sorri e afasta-se a galope firme no seu golfinho cinzento, deixando para trás a sua silhueta inesquecivel.
O meu destino chama-se Mariana!

2006/06/18

Amizade

"You got a friend" de James Taylor passava às escondidas porque ainda não era tempo para cantar a solidariedade.
Tenho um amigo, não imaginário como as outras crianças, mas alto e forte que me segura a mão para dar os meus primeiros passos.
Figura austera mas doce, sorriso envergonhado porque estar sério é encarar a vida como ela deve ser encarada, com muita seriedade. Olho para cima e vejo o meu protector contra tudo e contra todos, aquela figura de pedra nunca deixaria que me fizessem mal. Asfixia mas ao mesmo tempo evita que caia nas pedras da calçada, não me larga a mão e discute com todos, quando me sente a balançar nas mãos de outros.
As palavras não são necessárias, os olhos comunicam por si só enviando cascatas de palavras com e sem sentido para alguém que só quer tropeçar para conhecer o alivio que é sarar uma dôr. Muito tarde as senti, demasiado tarde...
Com o passar do tempo os meus interesses divergem dos dele, não lhe dei tempo para me acompanhar de mão dada. Larguei-lhe a mão e corri desesperado à procura de nada.
Continuo a adiar o momento de lhe dizer nos olhos que o amo mais que a mim próprio, e os dias passam sem que o consiga fazer... Passou-me demasiadamente bem a seriedade hereditária nos genes comuns. Eu tenho tempo para mudar, só preciso da coragem ou da paz para lhe dizer o que sinto. Não vou esperar pelo momento em que ele já não me possa responder com um sorriso aberto que sempre me negou. Não vou...!

Verão

"In the summer time" de Ray Dorset era a musica do momento...
Estava quente e flutuava, sentia-me muito bem. Abri os olhos e estiquei as pernas de encontro à escuridão, estava na hora.
Fez-se luz, muita luz e de repente cheguei a um destino traçado por vontade de outros, ou não... Sempre estranhei o facto de ter nascido de 4 meses, e no entanto ter sido muito desejado. Sou lindo... Cabeludo, cabeçudo, olhudo, e com um peso igual ao meu aparente tempo de gestação, o menino perfeito desejado por todos e ávido de enfrentar o desconhecido conhecimento da vida oferecida e para sempre pendente de uma vontade divina, que dá com uma mão para poder esconder com a outra.
O arbitrio está ao meu alcance, mas não por agora.
Um sorriso guardado na memória distante, é a unica recordação que resta desse momento, um sorriso que me acompanha e que me aquece nos momentos mais frios e escuros da minha existência, e que como um farol, me indica um porto seguro quando navego em mar alto em busca das respostas às perguntas que nunca fiz.
Os sentidos despertam sem me pedir licença...
Sinto o odor da sobrevivência nos seios de uma mulher que não conheço, mas que sinto conhecer à muito tempo, que me cantava musicas de embalar quando deambulava naquele mar viscoso e quente, que me afagava nos meus medos sem sentido e que me passeva por sitios nunca antes descobertos.
o sabor é bom, muito bom, não do leite que me alimenta, mas do amor que o transporta. Vou ficar ligado para sempre a esta mulher.

A insustentável leveza do ser...

flutuo...
não me parece que consiga mergulhar neste mar tão salgado e frio!
Os pensamentos vagueiam ao lado das nuvens por cima de mim.
Vejo comboios, casas, animais que se apagam subtilmente ao sabor do vento, transformando-se de novo em simples nuvens.
Que missão ingrata têm as nuvens. Esconder o sol e enviar chuva... Mas um céu sem nuvens é o mesmo que um prado sem ovelhas a pastar, tanto azul sem imperfeição.
flutuo...
Maldito sal que não me deixa destemperar a minha alma, sou um tronco sem destino à espera que as ondas me levem para longe, para um sitio onde possa afundar os desgostos que me perseguem mas que me mantêm a flutuar.
Respiro fundo à espera que ar me engorde o espirito leve como uma folha de papel, sinto que não está a resultar...
Procuro uma ilha distante, uma lagoa de água doce onde possa aquecer de novo a vida.
Que raio de fio invisivel me prende a este destino, o de flutuar sem poder experimentar o mergulho nos braços doces do amor. Vagueio sem destino, mas sei que a ilha está próxima, está no meu destino que a encontre, para que finalmente possa começar a viver.
flutuo... por quanto tempo mais? Adormeço e ouço a minha vida passada...

Mar e Doce

Mar :
substantivo masculino
grande massa e extensão de água salgada que cobre a maior parte (73%) da superfície da terra.
grande quantidade, imensidade
abismo
(do latim: mare)

Doce:
adjectivo 2 géneros
que tem sabor agradável como o do mel e o do açúcar
meigo, suave, afectuoso
encantador
(do latim: dulce)

Mar e Doce é o amor.
À beira do abismo sentimos o encanto das palavras adoçicadas do ente amado ou odiado. Somos engolidos por uma maré que teima em não baixar, por um suave chamamento de uma voz meiga que nos diz para mergulhar nessa imensidade de sentimentos desconhecidos e inexplicados.
Perdemos o pé, mas avançamos na mesma. Saberemos nadar em águas tão profundas?